Sinestesia (do
grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos
sensoriais diferentes: Por exemplo, o
gosto com o
cheiro, ou a
visão com o
olfato. O termo é usado para descrever uma
figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
Figura de linguagem
Sinestesia é uma figura de estilo ou semântica que relaciona planos diferentes. Tal como a
metáfora ou a
comparação por
símile, são relacionadas entidades de universos distintos.
Exemplos de sinestesias:
- Latitude de uma montanha consiste a uma pedra
- Figura de linguagem
Sinestesia é uma figura e estilo ou semântica que relaciona planos
sensoriais diferentes. Tal como a [metáfora] ou a [comparação por símile], são relacionadas entidades de universos distintos.
Marcos Conceituais
Neste primeiro momento destacamos a existência de uma certa confusão com relação aos termos cinestesia e sinestesia, o primeiro termo refere-se ao sentido muscular, a um conjunto de sensações que nos permite a percepção dos movimentos (Michaelis,
1998); o segundo termo, objeto de nosso estudo neste
trabalho, refere-se a uma sensação secundária que acompanha uma percepção, ou seja, uma sensação em um lugar originária de um estímulo proveniente de um estímulo de outro (Michaelis, 1998 e Dorsch, 1976). Portanto, é importante termos em mente que o termo sinestesia empregado neste trabalho não se restringe à percepção do movimento e suas propriedades (peso e posição dos membros), mas engloba um conjunto geral de percepções e sensações interconectadas por processos sensoriais.
Charles Baudelaire (1993) e os partidários de uma ruptura com a estética clássica no período
simbolista, no âmbito da
história da
arte, se constituíram nos precursores de uma nova concepção
estética que, mais tarde, romperia as fronteiras do academicismo vigente, incentivando o surgimento de manifestações cada vez mais independentes neste campo. Neste contexto de mudanças observamos que os poetas simbolistas e pré-simbolistas propõem um retorno ao subjetivismo e à sensorialidade em oposição à objetividade científica e ao materialismo e é neste contexto que a sinestesia se configura no conjunto das propostas simbolistas. Baudelaire, segundo Tornitore (1999) defendia, através da Teoria das Correspondências, a existência de uma relação entre os domínios sensórios; para o poeta, certos cheiros estão associados a um certo tipo de verde, anunciando uma expansão no âmbito da sensibilidade onde é possível sentir um cheiro e ao mesmo tempo provar a doçura da música, ou ainda ver uma cor em particular. Em suma, defendia a proposta de que sons, cores e cheiros estão misteriosamente co-relacionados e que esta ligação é intrínseca à natureza das coisas portanto, potencialmente perceptível a todo ser humano e não necessariamente ligada à sensibilidade do "eleito" ou do "amaldiçoado".
Trata-se de um termo que está presente em diversas áreas de
conhecimento, na
literatura, por exemplo, Faraco & Moura, (1998) definem a sinestesia como fazendo parte de uma rede
semântica de figuras de linguagem muito característica do simbolismo que, enquanto propriedade de um
discurso, gera uma associação entre uma sensação e outra
sensação, ou uma
impressão, ou uma situação; Machado (1967), por sua vez, define etimologicamente o termo como o ato de perceber uma coisa no mesmo tempo que outra, percepção esta evocada por sensações simultâneas. Em Silva (1945) observamos um certo alargamento do
conceito visto que aponta para a produção de duas ou mais sensações sob a ação de uma só impressão, segundo o autor, uma das sensações aparece no ponto ou
órgão onde atuou a impressão, a(s) outra(s) sensações se manifestam em órgãos afastados. Dorsch (1976) é da mesma opinião quando fala da possibilidade de aparecimento de sensações associadas por um estímulo real.
Tornitore (1999) em sua Teoria da História da Sinestesia declara ainda que
Pitágoras,
Aristóteles e
Newton já identificavam a presença de tal fenômeno no âmbito dos sentidos, contudo é importante observar que, tanto Tornitore, como o pesquisador americano Richard Cytowic (1995) são unânimes em afirmar que o campo de estudos referente à sinestesia só é alargado a partir do desenvolvimento da neurociência e em particular da neuropsicologia, bem como da tomografia computadorizada do cérebro, colocando por terra as idéias vigentes no século XIX que consideravam a sinestesia um
monstro, uma
anomalia ou ainda um sinal de degeneração da
raça humana.
A partir dos trabalhos de Cytowic (1995) e Tornitore (1999) é possível observar basicamente, a existência de duas correntes no campo da sinestesia, uma que defende o seu caráter hereditário e seletivo nos seres humanos e outra que aponta para a idéia de que (...) nós somos todos sinestésicos e que só um punhado das pessoas está conscientemente atento para a natureza holística da percepção (Cytowic, 1995, 5:6) contudo, é importante observar que trata-se de um fenômeno multidimensional e que, segundo o autor, se apresenta em cada ser humano de forma peculiar e diferenciada.
Tendo em vistas as múltiplas interconexões presentes em nosso cérebro descritas por Pierantoni (apud Tornitore, 1999) como um sistema de "anéis dentro de anéis" de tal forma que, assim que um dado sensório entra na rede, compara-se como uma
pedra lançada em uma
lagoa: as
ondulações se espalham formando
círculos concêntricos em todos os distritos sensórios ativando outras sensações, declara ainda, juntamente com o
psicólogo L.E. Marca (apud Tornitore, 1999) que todos nós temos um painel de comando que interconecta os vários sensos, normalmente adormecidos e que também podem ser reativados artificialmente com certos
alucinógenos. Quanto ao caráter seletivo da sinestesia, mencionado acima entendemos, a partir do artigo de Camargo (2002) que pesquisadores tais como o
professor Sean Day da Universidade Central de
Taiwan (sinesteta desde a infância), tem se preocupado em catalogar modalidades diferentes de sinestesia presentes nas pessoas que já tem consciência de possuírem tal habilidade e as possíveis causas e conseqüências das misturas de sensações.
Outro pesquisador que tem estudado o
fenômeno é Baron-Cohen da
Universidade de Cambridge na
Inglaterra ele estuda a presença da sinestesia na fase
neonatal, defendendo a
ideia de que o
cérebro dos portadores de sinestesia é biologicamente distinto dos demais e que tal habilidade se apresenta nos seres humanos já nos primeiros dias de
vida. English (1977), por sua vez em seu Dicionário de Psicologia também sinaliza para o fato de que a sinestesia é uma condição encontrada em alguns
indivíduos, onde a percepção de certo tipo de objeto é associada com
imagens particulares de outra modalidade sensorial.
Entretanto, é possível observar que se trata de um campo de estudos relativamente jovem no qual o avançar das pesquisas poderá nos dar vislumbres mais claros destas
dimensões, proporcionando uma melhor compreensão acerca da unicidade do ser humano. Outrossim, ressaltamos a importância de compreensão, mesmo que parcial, do fenômeno como recurso
metodológico no interior da prática educativa, tendo em vista que, juntamente com Tornitore (1999), nos contrapomos à idéia de que a capacidade sinestésica esta restrita a um grupo específico de pessoas, pois, conforme vimos anteriormente, nem todos atentaram ainda para a existência de tal capacidade, o que desmistifica a premissa de que a sinestesia seja inerente à categoria dos chamados "
artistas". Acerca desta questão Cytowic (1995) declara que tal associação mais se assemelha a um preconceito infundado do que a uma premissa com embasamento
sólido . Tornitore (1999) declara ainda que, em função da importância que os sentidos tem na vida humana, é fácil imaginar que não apenas a arte, mas todas as ciências (humanas, exatas, biológicas) são concebidas por meio de processos sinestésicos, retomando aqui as concepções de Morin no que se refere às relações entre o todo e as partes constituintes, ao tratar das questões ligadas à complexidade biológica declara: (...) a complexidade começa logo que há sistema, isto é, inter-relações de elementos diversos numa unidade que se torna complexa (una e múltipla). A complexidade sistêmica manifesta-se, sobretudo, no fato de que o todo possui qualidades e propriedades que não se encontram no nível das partes, consideradas isoladas e inversamente, no fato de que as partes possuem qualidades e propriedades que desaparecem sob o efeito das coações organizacionais do sistema. (Morin, 2000 p. 291).
O que nos leva a entender que o
ser humano envolto na complexidade não pode ser considerado em partes estanques e dissociadas e que a capacidade sinestésica encontra-se envolta no processo de
inter-relações mencionado pelo
autor.